sábado, 18 de agosto de 2012

Somos 3 milhões de negros e negras em São Paulo, mas, praticamente não existimos no poder...

Uma fala da guerreira negra Claudete para os negros e negras da cidade de São Paulo:

              "Não aguento mais ouvir nos bastidores da vida política que Negro não vota em Negro e quando acontece, vota errado! Este é um discurso daqueles que não nos querem nos espaços do poder. A Câmara Municipal de São Paulo tem 452 anos e durante esse longo período tivemos apenas duas mulheres negras eleitas vereadoras. Eu fui a segunda, após 36 anos da eleição da primeira e hoje não temos nenhuma mulher negra como vereadora dessa cidade.
              Nossas questões não são tratadas com prioridade e a grande maioria dos parlamentares, com raras exceções, só lembra da nossa existência nas eleições. Somos mais de três milhões de eleitores e se nos uníssemos estaríamos proporcionalmente representados em todos os níveis de poder. Sabemos que não basta ser negro ou negra para defende4r a comunidade. Até temos alguns não negros que tentam fazer alguma coisa mas, por não sentirem na pele e na alma, os problemas que enfrentamos devido ao racismo e as discriminações, não priorizam em seus mandatos ações para resolvê-los. Reitero: com raríssimas exceções.
                Quem acompanhou nosso mandato pode comprovar o esforço que realizamos para que a comunidade negra saísse do anonimato social e da invisibilidade política e passasse a ser tratada como os demais grupos étnicos. Regulamentei todos os feriados da cidade aprovando uma lei que tornou o 20 de novembro feriado municipal, em homenagem a Zumbi dos Palmares o único herói negro reconhecido oficialmente em nosso país, com o objetivo de combater os comportamentos racistas que estão por toda a parte em nossa cidade.
                Hoje temos no parlamento somente negro celebridades que conseguem ser eleitos devido as suas exposições na mídia.
                 Penso ser importante mas, precisamos muito mais do que a defesa de ritmos que tanto apreciamos. Temos fome de justiça, de reparações, ações concretas que nos possibilitem sair do anonimato que os racistas nos impõem a séculos.  Para propor e aprovar leis que promovam a dignidade da população negra tem que ter coragem e fazer os enfrentamentos que são necessários.
                Aprovei várias leis e realizei várias intervenções que exigiram do poder executivo ações para enfrentar o racismo e os preconceitos contra o povo negro (ver no site da Câmara a integra dos mesmos). Após a nossa saída, quando essas ações são cumpridas, deixam muito a desejar e não vejo ninguém com as prerrogativas de um mandato parlamentar, cobrando providências...
                 Temos que exigir respeito com a nossa História e temos parlamentares negros e não negros comprometidos com de fato com a construção de uma sociedade que trate todos com o respeito, independente da cor da sua pele.
                  Não podemos compactuar com os oportunistas que em período eleitoral nos enchem, de afagos com os famosos tapinhas nas costas, festinhas, churrascos, cervejinhas, fantasia para o carnaval, etc. portanto sugiro: coma o churrasco, beba a cerveja, curta as festas mas, na hora de votar usem a razão. Façam o que todas as outras comunidades fazem: garantam uma representação que defenda, com
prioridade, os interesse4s da comunidade.
                  Sei que muitos podem achar que estou sendo dura com essas afirmações, mas as considero necessárias para que negros e negras reflitam sobre o porquê, mesmo sendo maioria da população.
                  Sou uma mulher negra, guerreira e que, até o final dos meus dias mesmo com todo o sofrimento, não permitirem que congelem o sangue da Zumbi que fervilha em minhas veias. Viva Zumbi, Viva a Comunidade Negra e todos e todas que entendem que a raça é Humana."


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